Hoje em dia, é impossível abordar o problema da infertilidade feminina sem estudar sua dimensão psicológica. Segundo alguns estudos, cerca de 20% dos casos de esterilidade são inexplicáveis do ponto de vista médico. Ainda que 80% deles tenham causas orgânicas, já não se pode separar as causas médicas do estado psicológico da mulher. Em todos os distúrbios do corpo, o estado mental tem participação no problema e com a dificuldade em ter um bebê não é diferente. Os casos de mulheres que realizam fertilizações in vitro sem sucesso e, poucos meses depois, engravidam de forma natural é a comprovação disso, afirmam especialistas.
É preciso cada vez mais levar em conta a dimensão psicológica do problema da esterilidade. Uma mulher com um problema de infertilidade, por exemplo, pode ver esse temor atuar em sua capacidade de engravidar. Por conta disso, diversos psicanalistas indagam se o temor não pode ser o responsável exclusivo pelas dificuldades que essa mulher enfrenta. Assim, médicos devem estar preparados para auxiliar os casais dando espaço para que expressem suas angústias e medos. A situação, porém, ainda não é uma realidade nas clínicas de fertilização e hospitais do país devido à sobrecarga de trabalho, que impede consultas mais longas com os casais.
Além de influenciar (ou mesmo causar) a dificuldade de engravidar, o estado psicológico também tende a se agravar quanto mais tempo o casal passa sem conseguir ter um filho. Para muitos homens e mulheres, não conceber uma criança passa a ser motivo de vergonha e o casal se fecha cada vez mais, evitando parentes e amigos, especialmente aqueles que tenham filhos pequenos. Com isso, tentam evitar questionamentos desagradáveis sobre a demora no nascimento do filho. A impossibilidade de trazer uma criança ao mundo é vivida como um drama ou uma maldição pelo casal e, em alguns casos, a situação se torna insuportável. Muitos casais não aguentam conviver com isso e acabam se separando.
Casais que buscam métodos artificiais para engravidar acabam descobrindo um universo médico pouco amigável e desumanizado, o que pode piorar o estado psicológico da dupla. Para muitos, a realização de exames em horários inadequados, a necessidade de transar numa determinada hora e masturbar-se num quarto da clínica podem trazer incômodos e fazem muita gente desistir dos tratamentos.
Um especialista em fertilização artificial deve preparar os cônjuges sobre o longo caminho que terão pela frente e todas as dificuldades presentes nesse trajeto. Deve também comunicar sobre problemas psicológicos que podem ocorrer durante o processo, como o medo inconsciente da gravidez e o temor de reviver antigas dificuldades. Além disso, o médico precisa identificar os conflitos do casal que podem agravar as dificuldades e impedir o sucesso dos procedimentos.
Poder exprimir todas as suas emoções e dialogar com um profissional que estará à escuta é essencial para casais com dificuldade de engravidar. Isso ajuda a romper o círculo vicioso de fracasso, estresse e angústia, que pode perturbar a ovulação. Buscar aconselhamento profissional também ajuda o casal a não se culpar pelo problema, reduzindo casos de depressão e questionamentos sobre a virilidade entre os homens. O psicólogo também orienta o casal a recuperar o desejo sexual e retirar o foco do sexo em apenas ter um bebê. É também necessário auxiliar a dupla em superar a infertilidade. É preciso que a busca por um filho não vire obsessão.
Foto: © Hugo Felix - Shutterstock.com