O termo aborto espontâneo significa uma anomalia que ocorre frequentemente no início da gravidez. Trata-se de uma provação geralmente muito traumática para a mãe, mas também para o pai. A ocorrência de um aborto espontâneo não compromete o êxito de uma gravidez posterior.
O aborto espontâneo é caracterizado por dores que se assemelham àquelas que acompanham a menstruação, combinadas com sangramento mais ou menos abundante. O aborto espontâneo do embrião ou do feto ocorre antes do fim do sexto mês de gravidez. Trata-se de uma gestação natural de má qualidade que não teve sucesso em terminar sua evolução. O aborto espontâneo é um processo natural que permite eliminar o embrião inviável.
Mais de uma em cada dez gestações diagnosticadas terminam com um aborto espontâneo durante o primeiro trimestre. A maioria dos óvulos fecundados termina seu desenvolvimento antes da ocorrência do atraso na menstruação. A maioria dos abortos espontâneos acontece no começo da gravidez, antes de 10 semanas de gestação. A frequência de abortos espontâneos é duas vezes maior em grávidas com 40 anos ou mais do que entre aquelas na casa dos 20 anos.
As causas do aborto espontâneo são numerosas. Mais de oito abortos espontâneos em cada dez são causados por uma anomalia cromossômica. Os abortos espontâneos tardios, que ocorrem após 10 semanas de gravidez, estão geralmente associados a uma malformação uterina. Infecções, como toxoplasmose e listeriose, podem estar na origem de um aborto espontâneo.
Hipotireoidismo, diabetes gestacional, tabagismo, álcool e café também podem estar na origem de um aborto espontâneo. O consumo diário de duas xícaras de café na gestação aumenta o risco de aborto, aponta estudo publicado em 2008. A amniocentese aumenta o risco de aborto espontâneo em 1%. A prática esportiva intensa no início da gravidez (mais de sete horas por semana) aumenta este risco em 3,5%.
Em geral, é aconselhável aguardar de dois a três ciclos menstruais antes de pensar em conceber uma criança novamente. Muitas vezes, as mulheres engravidam rapidamente após um aborto espontâneo. Estudo publicado em 2010 mostra que gestações que ocorrem menos de seis meses após um aborto espontâneo resultam mais frequentemente em outro aborto do que aquelas que se iniciam com um intervalo maior. Os especialistas concordam sobre a necessidade de passar pelo luto após a perda de um bebê antes de pensar em engravidar novamente.
Quando a expulsão do feto, confirmada por um ultrassom, é espontânea e completa, nenhuma intervenção médica é realizada. Caso ocorra expulsão incompleta, podem ser feitos alguns procedimentos, como aspiração ou curetagem. Em caso de aborto espontâneo tardio, é necessária hospitalização em razão dos riscos hemorrágicos. Dor e sangramento frequentemente persistem após um aborto espontâneo. Banhos de mar e piscina ou duchas vaginais devem ser evitados durante cerca de uma semana.
Raramente é necessário fazer alguma investigação após um primeiro aborto espontâneo. Alguns exames (ultrassom, hemograma, histerografia) são prescritos, por outro lado, em caso de múltiplos abortos, em geral após o terceiro. Se a mulher tiver mais de 38 anos e os abortos ocorrerem tardiamente ao longo da gestação, o exame será realizado antes, após o segundo aborto. Apesar disso, a origem da repetição dos abortos espontâneos nem sempre é encontrada.
Um aborto espontâneo é algo traumático e particularmente doloroso para as mulheres que o enfrentam. Essa provação, que afeta também o pai, pode perturbar a relação do casal. Recuperar a confiança em si é indispensável para planejar outra gravidez. Exteriorizar angústias e não reprimir o episódio vivido são atitudes primordiais a ser adotadas rapidamente. Angústias não expressas ou estresse muito intenso podem impedir a concepção de outro bebê. Negar tal episódio pode perturbar o desenvolvimento psicológico do próximo bebê. Por conta disso, é indispensável falar sobre o episódio com os filhos pois as crianças sentem o trauma enfrentado pela mãe e poderão sofrer se não puderem se expressar.
Relativizar essa provação pela qual passam muitas mulheres, aprender e aceitar o reconhecimento da existência do bebê perdido, evitar negar tal criança e passar pelo luto são apontados por muitos especialistas como etapas fundamentais para conseguir aceitar a vinda de outra criança. Alguns psicólogos recomendam registrar o nascimento do bebê ou o nome da criança no álbum de família se o aborto ocorrer tardiamente. Conversar com outras mães e buscar aconselhamento psicológico também ajuda a superar esse momento difícil. A presença do parceiro nesta fase é essencial. Mulheres que já tiveram um aborto ficam aterrorizadas no início da nova gravidez e temem a data em que a perda anterior ocorreu.
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