Atualmente, no Brasil, 13,7% da população possui 60 anos ou mais. A expectativa de vida teve crescimento real de 11,2 anos entre 1980 e 2013. Com a população idosa aumentando, é preciso promover acompanhamento especializado que atenda às demandas de saúde desse grupo. Entre estas especificidades, é necessário promover atenção abrangente com foco no paciente e nas polipatologias, uma vez que é comum a presença simultânea de duas ou mais doenças crônicas em pessoas de 75 anos ou mais. Veja recomendações das agências de saúde para acompanhamento e tratamento de idosos com polipatologias.
Ao consultar os registros do paciente, o médico pode identificar aqueles com mais de 75 anos afetados por pelo menos três doenças crônicas. As doenças a serem consideradas são as de duração prolongada, que causam prejuízo funcional e necessitam de cuidados a longo prazo. O tratamento deve ser individualizado de acordo com os perfis de risco de cada paciente.
O primeiro passo é encontrar a principal preocupação da pessoa: um sintoma, dificuldades funcionais ou a doença em si. O objetivo é proporcionar cuidados com foco nas necessidades do paciente. A revisão de diagnósticos e tratamentos deve ser realizada em paralelo, para se adaptar às estratégias terapêuticas. Para isso, é recomendando realizar o diagnóstico preciso e revisar os medicamentos prescritos anteriormente, para combinar tratamentos e doenças.
Convém avaliar a pessoa a nível funcional, psicológico e social, a fim de classificar os problemas identificados por prioridade. Isto deve ser feito através de avaliação geriátrica especializada. É também aconselhado verificar as preferências do paciente em relação ao tratamento, para levá-las em conta na hora de tomar as decisões terapêuticas. No final dessas avaliações, a estratégia terapêutica é reavaliada e os resultados devem ser registrados no prontuário do paciente.
O médico, com a ajuda de outros profissionais de saúde, pode planejar ações de cuidado em uma situação complexa para fornecer tratamento sob medida para os problemas. Pode-se utilizar um questionário para ajudar na decisão de iniciar um tipo de gestão de programas personalizados de atendimento. A decisão final cabe ao médico, que consulta especialistas profissionais para desenvolver o plano de ação.
À medida em que o tratamento é aplicado, é recomendado realizar otimizações terapêuticas e reavaliar os objetivos, controlando o risco iatrogênico (polifarmácia e automedicação) e garantindo a realização de transições, quando couber. Se necessário, as prioridades podem ser revistas com o paciente. O monitoramento deve ser realizado pelo menos uma vez por ano e reforçado nos períodos de risco de interrupção do tratamento. O tratamento de pacientes afetados por alguma doença terminal grave não deve seguir estas medidas.
Nos idosos, as polipatologias complicam a prática dos profissionais de saúde. As razões para isso são incerteza do diagnóstico, polifarmácia (oito a 10 drogas em média), prescrições múltiplas (fragmentação do cuidado ou análises contraditórias) e aumento de recursos de cuidado e custos.
Para organizar o tratamento, deve-se levar em conta quatro pontos: diagnóstico preciso de todas as doenças crônicas, otimização dos tratamentos, avaliação da participação individual do paciente e possibilidade de adoção de um programa personalizado de cuidados.
Os profissionais devem ser treinados nas especificidades de polipatologia geriátrica e outros elementos necessários para a organização do tratamento: organização da prescrição, avaliação geriátrica e um programa de atendimento personalizado. É recomendado também uma avaliação para diagnosticar possíveis maus-tratos sofridos pelo idoso.
Em casos de polipatologia, há vários pontos a serem evitados: o tratamento dos sintomas sem diagnóstico preciso, o tratamento fracionado, a falta de envolvimento do paciente e sua família, a negligência dos fatores de risco para internação (queda, polifarmácia, desnutrição, depressão) e a ignorância de fatores sociais. A presença dos profissionais que realizem atendimento em casa, o acompanhamento após a hospitalização, sinais de alerta de risco de descompensação e situações desestabilizadoras não devem ser negligenciados.
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