A Alta Autoridade da Saúde da França (HAS, em francês) publicou o documento 'O uso adequado do medicamento' sobre benzodiazepínicos e substâncias relacionadas. No documento, especialistas alertam que embora estes medicamentos, também chamados de hipnóticos, facilitem o sono, eles não resolvem as causas da insônia e podem causar efeitos colaterais graves.
A organização listou cinco benzodiazepínicos e duas substâncias relacionadas: estazolam, loprazolam, lormetazepam, nitrazepam, temazepam, zolpidem e zopiclone. Observa-se que a prescrição para estes medicamentos não pode exceder quatro semanas e não é renovável.
A HAS recomenda respeito às regras de higiene do sono. O cumprimento destas regras pode ser suficiente para recuperar o sono em caso de insônia. O órgão enumera seis regras, incluindo: dormir segundo as necessidades, mas não mais que isso, ter um horário regular para despertar e deitar-se, e evitar refeições gordurosas e pesadas à noite.
Se as regras de higiene do sono não forem suficientes, a HAS recomenda prescrição de um hipnótico apenas como uma estratégia de curto prazo sem acumular várias drogas de efeito sedativo devido a possíveis efeitos colaterais graves. De acordo com o órgão, o medicamento deve ser escolhido segundo critérios individuais, tais como perfil da insônia do paciente, condição fisiológica, possíveis interações medicamentosas, prazo e duração da ação do produto.
Convém informar ao paciente as condições de tratamento e as precauções que devem ser tomadas. A mudança no tratamento só se justifica em caso de efeitos colaterais. Uma segunda consulta médica deve ser feita no final da duração da prescrição. Um tratamento não-farmacológico (terapia cognitivo-comportamental) é viável se a situação continuar para além de várias semanas.
A organização afirma que nenhum remédio é indicado para tratar insônia crônica. Além disso, hipnóticos apresentam risco de dependência e podem ser fator de manutenção da insônia.
Uma interrupção gradual de tratamento, em várias semanas ou vários meses, deve ser realizada. A diminuição da dose deve ser considerada um resultado favorável. Em caso de falha, os profissionais de saúde devem incentivar o paciente a começar novamente, após avaliar as razões para o fracasso.
A organização aponta os seis erros que devem ser evitados: prescrição sistemática de um hipnótico; o desconhecimento do transtorno psiquiátrico que seja a causa da insônia; a negligência de sintoma que revela apneia do sono; associação de vários medicamentos; renovação do tratamento sem reavaliação e interrupção súbita do tratamento.
Antes de indicar benzodiazepínicos para idosos, vários parâmetros devem ser levados em consideração, entre os quais as alterações do sono devido à idade, consequências diurnas da insônia e menor eficiência metabólica do idoso. Nos idosos, o tratamento da insônia deve promover vigília durante o dia, prática de atividades físicas e ritmo de sono regular com horário de despertar mais tarde. Deve ser dada prioridade tratamentos sem medicamentos, pois a ingestão dos hipnóticos aumenta os riscos de queda. Em caso de idosos que tomam os hipnóticos há algum tempo, a interrupção do tratamento deve ser cuidadosamente avaliada.
De acordo com a HAS, o efeito do medicamento é pequeno: ganha-se uma hora de sono por noite durante períodos curtos. A eficácia a longo prazo ainda não foi demonstrada.
Estes medicamentos apresentam diversos efeitos colaterais, entre eles: distúrbio de memória, diminuição do estado de alerta, distúrbios de comportamento e riscos de quedas. O uso de benzodiazepínicos também está associado ao desenvolvimento de demência. A HAS também indica a possibilidade de tolerância farmacológica e dependência psíquica e física.
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