A hepatite C é uma doença hepática cuja principal via de transmissão é a transfusão de sangue. No entanto, ela também pode ser transmitida ao recém-nascido por uma gestante infectada. Essa infecção não afeta de forma significativa o curso da gravidez nem o prognóstico de vida do feto, mas não há tratamento antiviral específico para gestantes. Também não está comprovado se o tipo de parto e a amamentação influenciam na transmissão da doença.
Ao longo da gravidez, é normal que os níveis de transaminases em mulheres com hepatite C caiam. Metade das pacientes infectadas apresentam queda de até 7% das transaminases no terceiro trimestre de gravidez. Por esta razão, a presença de transaminases normais na gestação em uma mulher com fatores de risco para infecção pelo vírus da hepatite C não descarta a doença. Apesar desta normalização do nível de transaminases, alguns estudos científicos recentes têm sugerido que a gravidez produz aumento da atividade inflamatória do fígado, o que poderia se constituir em via de diagnóstico da doença em grávidas.
Quando um quadro de hepatite C se instala, os anticorpos envolvidos no combate à doença se manifestam de maneira rápida e forte. Portanto, o ideal é medir a taxa de anticorpos para saber se há uma infecção em curso ou não.
Os anticorpos maternos são detectáveis no recém-nascido mesmo quando não tenha ocorrido transmissão vertical do patógeno. Por conta disso, o teste sorológico para diagnóstico da doença em crianças não pode ser feito antes dos 15 meses. Além disso, resultado sorológico positivo deve ser confirmado por outro exame, como PCR para detecção de RNA viral circulante.
O vírus da hepatite C não ultrapassa a barreira placentária e sua transmissão se dá no período pré-natal. A transmissão vertical é definida convencionalmente como a persistência de anticorpos anti-hepatite C no recém-nascido por mais de 12 meses. Entre as condições associadas ao risco aumentado de transmissão, a mais importante delas é a coinfecção com o HIV. Esse fator por si só aumenta o risco de transmissão da hepatite C em 22%. Outro fator de risco é a maior carga viral do patógeno na mulher. Por fim, a amamentação não está relacionada ao risco de transmissão vertical da doença.
A transmissão do vírus da hepatite C durante o parto é um tema ainda bastante controverso. Alguns pesquisadores já demonstraram uma maior frequência de transmissão viral em partos por cesariana do que em partos normais (32% contra 6%). Porém, é provável que isto se deva à grande porcentagem de grávidas que também estavam infectadas pelo HIV, caso em que a cesárea é recomendada. Já em mulheres HIV negativas, os riscos são similares. Na prática, o aconselhamento é o de sempre: cesarianas só devem ser realizadas por indicação médica e em caso de riscos associados ao parto vaginal.
Não existe um tratamento antiviral específico para a hepatite C durante a gravidez. A terapia recomendada atualmente para hepatite C - combinação de interferon e ribavirina - também é contraindicada para gestantes. Também não existe nenhuma intervenção profilática - com uso de imunoglobulinas ou medicamentos antivirais, por exemplo - que proteja o feto da transmissão.
Não há evidências de que a infecção pelo vírus da hepatite C produza aumento do risco de complicações durante a gravidez, principalmente se a doença hepática se mantém clinicamente estável durante os meses de gestação. A doença também não provoca risco aumentado de malformações fetais.
Os recém-nascidos de mães infectadas que adquirem a infecção geralmente são assintomáticos, possuem transaminases em níveis normais e a doença transcorre de maneira benigna durante a infância. Já o prognóstico a longo prazo não é conhecido, mas é provável que seja similar ao de crianças que adquirem o vírus durante uma transfusão de sangue nos primeiros anos de vida.
Em primeiro lugar, a mulher deve realizar um teste PCR para determinar qual o tipo de vírus que está causando a doença. Na sequência, ela precisa analisar os fatores de risco da doença (transfusões, uso de drogas intravenosas, condutas de risco sexual) e efetuar os testes de HIV e hepatite B, além de também revisar a condição do parceiro sexual e possíveis filhos anteriores.
É importante também que a grávida, além do acompanhamento pré-natal usual, faça consultas regulares a um hepatologista para realizar provas hepáticas. Apesar desse cuidado, é raro encontrar gestantes infectadas com hepatite C que sofram de cirrose ou outros males do fígado. De qualquer forma, nova medição das transaminases deve ser feita seis meses após o parto.
Vale destacar também que a decisão quanto ao tipo de parto a ser realizado e quanto à amamentação não devem ser alteradas por conta da infecção pelo vírus da hepatite C. Sem indicação médica pela cesariana, a mulher deve dar preferência ao parto normal e garantir a amamentação exclusiva nos seis primeiros meses de vida do bebê.
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