Por que crianças são cada vez mais obesas

Fenômeno cada vez mais recorrente, a obesidade infantil pode ter consequências importantes na vida adulta. Muitos pesquisadores atualmente têm buscado descobrir formas de impedir o avanço dessa epidemia de obesidade entre crianças. As respostas para a pergunta são muitas e a solução do problema, bastante complexa.

Modificações na dieta infantil

Para compreender o impacto da modificação da dieta infantil sobre a saúde de adultos, um grupo de pesquisadores de 16 países europeus se reuniu para um trabalho iniciado em 2005 e com duração de cinco anos. Segundo o coordenador do programa, Berthold Koletzko, da Universidade de Munique, na Alemanha, elucidar essa questão é uma prioridade, pois a otimização da nutrição durante os primeiros meses de vida possui efeito de longo prazo sobre a saúde e o bem-estar da criança e do adulto.

De acordo com a hipótese dos pesquisadores, a alimentação nos primeiros meses de vida e também durante o período pré-natal podem ser responsáveis por estabelecer uma "programação metabólica precoce" que produziria maiores chances de obesidade a longo prazo. Para impedir essa situação, o grupo de cientistas defende o aleitamento materno exclusivo até os seis meses e a adoção de uma dieta balanceada por parte da grávida desde o primeiro mês de gestação.

Ácidos graxos e agricultura

Outro estudo científico, realizado na França, mostrou que houve um crescimento significativo, nas últimas quatro décadas, da quantidade de ácidos graxos poli-insaturados das séries ômega 6 presentes no regime alimentar padrão. Isso se dá fundamentalmente pela alimentação imposta aos animais de criação, elevando a concentração da substância na carne consumida pelos seres humanos.

Na população em geral, o consumo de lipídios cresceu 40% desde os anos 1970, o que levou a um aumento expressivo do aporte de ácidos graxos ômega 6, presentes em diversos produtos largamente consumidos. Por outro lado, o consumo de ômega 3 caiu 40%. Os ácidos graxos ômega 6 estimulam o desenvolvimento de tecido adiposo, principalmente durante o período da gestação e do aleitamento. Essa seria uma das explicações para o aumento da prevalência de obesos na população infantil.

Efeito protetor do aleitamento

Paralelamente, os pesquisadores destacam o efeito protetor do aleitamento materno que pode ser explicado, entre outras causas, por sua composição rica em macronutrientes, caracterizada por uma baixa proporção de proteínas e uma proporção elevada de lipídios.

Uma solução para cada problema

Como as causas da obesidade infantil são múltiplas, a erradicação do problema se torna uma tarefa complexa. Por conta disso, a solução é agir sobre cada causa de maneira específica, a fim de eliminá-la. Devem ocorrer, portanto, mudanças na indústria alimentícia, na alimentação dos animais para abate e também nos cuidados de recém-nascidos e da primeira infância.

Equilíbrio ômega 6 e ômega 3

Para conseguirmos reequilibrar a proporção de ômega 6 e ômega 3 consumidos pelas crianças (e também pelos adultos) é necessário que se aja sobre as companhias de agricultura para que elas alterem a qualidade da alimentação imposta aos animais.

Recomendações nutricionais

Devemos respeitar as recomendações nutricionais particulares de cada idade para permitir que as crianças tenham um desenvolvimento normal e saudável garantindo assim uma boa saúde durante a vida adulta. Para isso, é necessário estimular o aleitamento materno, que é a melhor forma de nutrição para bebês, e forçar as companhias alimentícias a melhorarem as fórmulas de seus produtos, reduzindo níveis de sódio, açúcar e gorduras saturadas.

Atividade física regular

Além disso, é preciso estar atento aos conselhos complementares (e bastante conhecidos) sobre a necessidade de dar preferência à prática de esportes e atividade física em detrimento de ações sedentárias, como videogames e uso de computador, smartphones e tablets.

Criança obesa, adulto obeso

Os pesquisadores também insistem sobre a necessidade de se agir na correção da alimentação e da rotina da criança ao primeiro sinal de sobrepeso ou mesmo de risco de sobrepeso. Mais da metade das crianças de 6 anos obesas continuarão obesas até a vida adulta. A taxa vai a 70% ou 80% entre os obesos com 10 anos. Quanto mais a obesidade se prolonga durante a infância, maiores são os riscos da situação ser mantida ao longo da adolescência e fase adulta.

Fatores de risco

Estudo também realizado na França com 1.780 crianças mostrou que a presença de sobrepeso ou diabetes entre familiares e o hábito de assistir televisão por mais de uma hora por dia eleva as chances da criança ter sobrepeso.

Foto: © Kwanchai Chai-udom - 123RF.com

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