Helicobacter pylori é uma bactéria que se aloja no estômago e pode provocar gastrite, assim como úlcera e câncer. Muito comum entre os brasileiros, a H. pylori estaria presente em 50% da população, segundo um estudo realizado pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Entretanto, na maioria dos casos, a infecção é assintomática.
A gastrite é causada pela ação do suco gástrico que irrita a parede do estômago, formando feridas. Diversos fatores podem contribuir para o aparecimento da doença, entre eles a presença da H. pylori. A bactéria destrói parcialmente a mucosa do estômago que o protege da acidez dessa secreção. Isso faz com que o indivíduo fique mais suscetível a desenvolver o problema.
Entretanto, "há pessoas que têm a bactéria, mas possuem uma alimentação adequada e uma resistência maior do estômago a esses tipos de agressões e não desenvolvem gastrite" ressalta Alexandre Sakano, gastroenterologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, ao CCM Saúde.
A presença da bactéria no organismo não é a única causa da gastrite. Existem muitos casos de pacientes que desenvolvem a doença sem estar infectados. Entre as outras causas da gastrite, pode-se destacar estresse, uso de anti-inflamatórios, consumo de álcool, tabagismo e até mesmo ficar muito tempo sem comer.
A gastrite não tratada pode evoluir para casos mais graves como úlceras, que é a destruição completa da mucosa do estômago, ou câncer. "É como uma pessoa que toma muito sol e fica mais suscetível a ter câncer de pele, pois a camada superficial da pele vai sendo constantemente destruída e reposta. Chega um momento em que isso pode sofrer uma mutação e virar um câncer. Com o estômago é a mesma coisa", explica o Dr. Sakano.
Além de aumentar a probabilidade de câncer por gastrites crônicas, a H. pylori também está diretamente relacionada a um tipo específico de tumor, o linfoma do estômago. Segundo o especialista, neste caso, o câncer pode ser tratado com antibióticos, que combatem a bactéria, e muitas vezes nem é necessária a realização de uma cirurgia.
Na maioria dos casos, a infecção por Helicobacter pylori é assintomática, ou seja, nenhum sinal do problema é observado. Quando surgem, porém, esses sintomas são os mesmos da gastrite, úlcera ou câncer.
É recomendado, portanto, procurar um médico aos primeiros sinais de uma gastrite. Os principais são queimação e dor de estômago – que pode melhorar quando se fica muito tempo sem comer ou piorar após o consumo de álcool ou certos alimentos condimentados.
Mal-estar frequente ao se alimentar e sensação de estômago cheio logo após começar a comer também são sinais aos quais é preciso atentar.
Há várias maneiras de identificar a presença do H. pylori no organismo, a principal delas é a endoscopia com biópsia. "Por meio de uma endoscopia tira-se um pedacinho da mucosa, que é em seguida analisado através de microscópio em procura de fragmentos da bactéria", esclarece Sakano. Outra maneira de fazer essa análise é por meio do método urease, que consiste em jogar o material coletado no reagente (urease), que muda de cor quando a bactéria H. pylori está presente.
É possível também fazer o diagnóstico através de um teste respiratório, procedimento mais simples. Para realizar o exame, o paciente deve soprar em um sensor que capta a presença da bactéria. Exames de sangue ou fezes são outras opções
Apesar de ser invasiva, a endoscopia é mais indicada para se estabelecer um diagnóstico preciso, pois com este procedimento também é possível verificar qual é a gravidade da lesão e se há gastrite, úlcera ou um câncer.
O tratamento padrão é feito com a combinação de dois antibióticos, amoxicilina e claritromicina, mais um inibidor da secreção ácida do estômago (como o omeprazol). O tratamento é eficaz em cerca de 90% dos casos. Outros antibióticos são prescritos, quando a bactéria resiste aos primeiros.
Ainda não se sabe ao certo como a bactéria H. pylori é transmitida. "Existe subsídio para se acreditar que a transmissão possa acontecer de pessoa a pessoa, isto é, uma pessoa contaminada pode transmitir para outra por contato domiciliar (compartilhar copos, talheres etc). Comida e água contaminadas também são possibilidades", explica a Dra. Márcia Wehba Esteves Cavichio, gastroenterologista do Fleury Medicina e Saúde, ao CCM Saúde.
Para aqueles que já apresentam uma gastrite, Sakano dá alguns conselhos para evitar as crises: evitar longos períodos sem comer (o ideal é se alimentar a cada três ou quatro horas); beber bastante líquido neste intervalo; evitar comidas apimentadas e com temperos fortes, assim como refrigerantes e bebidas alcoólicas.
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